Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Fernando Mendes Vianna

Embarcado em seco


Embarcado,
emborcado
- embarcadiço
sediço no beco -,
no muro viço,
entre muros viço.

Quando seco,
o sol ameaça
abrir-me em túnel
sem saída.
Mas a vida
- ave de aço –
vara o funil.

E continuo
contínuo barco
no verso onde zarpo
e fico ao largo
- embora seco.

O filho pródigo

Já não me basta o mar
- a busca do horizonte,
a luta entre espumas.

Aprendi com as ondas:
puro é o barro,
praia.

O resto é fuga.

Já não me basta o mar.
O mais alto mar
             é sempre longe.

Meu coração está aqui,
prisioneiro da raiz,
raiz.

Meu grande amigo Fernando foi ensinar poesia à morte em 2006 e com certeza emparedou-a em versos diretos, ensolarados e insaciáveis e a deve ter feito musa eterna entre tantas outras que viviam em seu lirismo. Deixou-me uma cópia de seu livro Embarcado em Seco que o serviu de guia para uma nova edição aqui e ali comentado e alterados alguns poemas com sua própria grafia. Minha imaginação e sentimento querem e insistem vê-lo recitando seus poemas entre outras à Grace Kelly, Romy Schneider, Ingrid Bergman, Audrey Hepburn e Jane Powell. Até sempre!

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