Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

sábado, 19 de novembro de 2011

Maiakovski

1.*
Já é mais de uma hora você já deve estar na cama
Na noite corre a via láctea como um rio de prata
Não me apresso com telegramas urgentes
Não mais tenho por que te acordar te atormentar
Como se diz o incidente está encerrado
A canoa do amor se quebrou na vida cotidiana
Eu estou quites com a vida não há por que recordar
As dores as desgraças os erros recíprocos
Veja que silêncio existe sobre o universo
A noite cobriu o céu de tantas estrelas
Em horas como essa a gente se ergue a gente fala
Aos séculos à história ao universo...

(*versos dos fragmentos do bilhete de despedida do poeta em 14 de abril de 1930)

trechos de A Plenos Pulmões

Eu mesmo falarei
    sobre o meu tempo
          e sobre mim.

Eu falarei a vocês
como um vivo fala aos vivos

Eu também
                 da propaganda
                                       já estou farto
e seria bom para mim
                            alinhavar
                                       romances para vocês.
Seria mais rendoso
                                 e mais agradável.
Mas eu mesmo
                          me contive
                                             colocando o pé
na garganta
                     de minha própria canção.

2.
Na estatura
                  só você me ombreia,
fica pois,
               sobrancelha a sobrancelha,
ao meu lado.
                    Deixa
                              que eu faça alarde
como homem
                      da grandeza da tarde.

3.
Para nós,
               a rima
                         é um barril.
Barril de dinamite.
                             O verso, um estopim.
A linha se incendeia
                                 e quando chega ao fim
explode
             e a cidade em estrofe voa em mil.

4.
Nos outros eu sei onde se abriga o coração.
É no peito - todos sabem disso.
Comigo
a anatomia ficou louca.
Eu sou todo coração -
ele bate em todo o corpo.

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