Outros papos
sábado, 16 de março de 2013
Elisabeth Veiga
Elegia 1
Já repeti o antigo encantamento
e só o cimento respondeu,
rastro de cinzas de maçã vencida,
desvestígio de gosto,
estanque julho que moeu vindimas
e deixou no espaço seu vinagre branco.
Onde havia um deus
os dias emboloram nuvens
de estrita agonia antepassada
que se olha no espelho
antes do adeus.
Inexiste, não soa, o que havia
fixou-se atrás da mente:
fim estalado de fotografia.
É agosto seco. É hoje e nunca houve.
Ao amor búfalo
Que heras venenosas te recubram
o avesso dos cabelos onde a ideia
de amor brotou torta
da cratera
desde o início.
E o tempo em temporais de areia
seja-te leve
ó meu suplício.
Nada foi verdadeiro na vereda
de finos artifícios
que teceram
com palha a fogueira das malícias,
benesses pesadelas:
teu passo elefantino e orgulhoso
com seus troféus de espanto e garrotes
novos à garota agradecida.
Seja-te leve esse esconjuro
de sal e ardósia,
esta laje com jeito
e faina de esfiapar-te
da lembrança,
cataventos
de cartas de amor despedaçadas.
Mil vezes
1
Só quem foi cicatrizado
muitas vezes
guarda
o vidrinho de Merthiolate.
Só quem foi cicatrizado
num exorcismo
mil vezes
tem uma fronha de lenços
onde a cabeça mal sonha.
2
Só quem foi acordado
no meio da noite
mil vezes
pelo corte pontiagudo
acorda por acordar,
acorda escancarado
com as portas batendo saltos,
guarda
um remedinho de trincos.
Só quem acorda mil vezes
não sabe mais quando dorme.
Alergia 2
Já repeti o velho encantamento
e o antigo deus Xipanto não azarou
na minha gleba de piche solferina.
Peguei o convescote, as sandálias murchas
e mudei de travesseiro lírico,
para afinar meu sambão em outros infernos.
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