Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

segunda-feira, 27 de abril de 2020




menino náufrago

onde deixei meu ursinho
a bola vermelha
o velocípede
o gato Chirubigo
a escola
minha casa
a jabuticabeira?

meus pais quando vêm?
estava no barco com eles
a praia está agora comigo
o mar não pode vir mais
não sei nadar
sinto frio

sonho com o arco-íris
dentro de um balão grande
cheio de gente e nuvens
a praia vem junto

domingo, 8 de março de 2020





Poeminha para Dorival Caymmi


a onda vem
o mar também
a onda sai
o mar se vai

se Caymmi estivesse aqui
as ondas parariam ali
para ele andar, para dar pé
deitar, banhar e rolar até
cantariam em alta voz
as canções que ele fez por nós