Poemas sem nome *
Ainda que não fossem
as cicratizes nas mãos
os diluídos ossos
levantados dos fósseis
ainda seria o coldre
a montanha escorregadia
um pouco a cada dia
as pedras sobre o coração
Ainda existiria o instante
tangível da memória
o gume germinador
de estrelas e de espigas
Ainda que não venha nenhum barco
e bruma alguma traga a carga de lenha
Ainda que o barqueiro venha louco
e todo o aço da certeza afundará
Ainda que o vento atormente com fúria
e vá a madeira polida afundar-se
Ainda que a carga seja a lâmina
com o colo certo de degolar
Ainda que na porta anunciem
que a florada do dia irá muchar-se
Ainda que seja um vasto mar
e a alma em deleite vá secar-se
Ainda que o mar seja uma rocha
e no deserto o coração vá navegar
Ainda assim o faroleiro acenderá
A fornalha acredita
no atiçamento de todas as certezas
Anda com o conhecimento do fogo
e de todas as pátrias que o reverencia
E de repente não há fogo definitivo
(*poemas extraídos de Estoques de Relâmpagos, Bárbara Bela Editora Gráfica, Brasília, 2002)
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