Minha mão se fosse a sua minha lembrança
meu corpo se fosse o seu me olhava.
Minha tristeza sua se fosse a minha
minha tristeza me cantava, minha mão
se fosse a nuvem me chovia,
minha carne se fosse a do tigre
me devorava, ela devora, ela,
devora todo dia o meu sonho.
Mas antes, a carne de meu sonho
fica no varal e eu como, meu pé
caminha e sabe bem quem leva,
meu pé leva a Neurália o pó
que apanha nas estradas, um pó
que poderia contar histórias
de meu chão, uma manta de carne
no varal do mundo pra me comer!
O meu sonho no varal fica só osso.
Estrelas Acorrentadas
As estrelas acorrentadas
nas águas dos rios
comeram os dentes de Deus
As estrelas acorrentadas
nas águas dos rios
– mas se é em agosto, em Goiás
as águas dos rios estão vermelhas
– águas dependuradas
no gancho das estrelas no céu
– mas se é em agosto em Goiás
as águas dos rios estão vermelhas
– no chão balouçante
– céu, chapéu de Deus.
Há no rio um
certo ar de indiferença
ao passar do menino. Deixava livre
o medo, o terror, o assombro no largo
espraiado e bravio ou no vertiginoso
cachoar flamejante dos estreitos.
O menino queria dissimular-se
como segurando num ponto de apoio,
não bem olhava a correnteza, já o velho,
muito moroso, se deixava ficar atrás,
amigo do rio.
Ainda longe, o menino caminhava cansado
e com o rio em si, sentindo-o qual
uma lenda que não sairia de sua mente,
no passar da vida e no passar
dos rios do mundo.
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