palavra-persiana
poema-lucidez
imanta o ar fora do cômodo
das frases um outono
rente à janela
ouro tonto sobre a tarde derrubada
entrementes, entre dentes
(e quatro paredes)
tua boca ainda evoca
equívoca e pobre.
na penugem além da vidraça
os deuses-de-tudo-o-que-importa
cerram as pálpebras de cobre
fósforo
ela segue dormindo. na borda do lençol o que a acalenta não são flores - senão aquelas mínimas rosas, pontas buliçosas de falanges a afiar seus instrumentos. sobre as cinzas do peito vão as pegadas, fósforo expondo ao ar noturno seu poder de ignição. o objetivo: o ermo pavilhão (esquerdo) do ouvido. onde então dispersariam, indo pesar alhures. nas pálpebras lilases, nas pétalas pisadas dos olhos, onde outro grupo de homúnculos labora. com minúcia, com agulhas de prata eles picam a superfície da pele pálida e baça e tão logo abertas às intempéries da luz. a cada golpe da agulha ela sabe , a massa corrente dos sonhos, a água caiada quase a ponto de talho se enruga e ralenta, e onde ali havia superfície fluida, ininterrupta, o que se coagula?
semi-cerrada na madrugada avulsa ela espera que alguma mão (a sua?) trêmula recolha toda a alva matéria e a explique.
poema submerso
olho: peixe-olho que
desvia a mão engua
a pele lisa a
té o umbigo e logo
a flora de onde aflora
(na virilha) p
barbirruivo a
ceso bruto an
fíbio: glabro
dedo tão tentáculos
e crispam esmer
ilham dorso abaixo a
cima abaixo brilha
o esforço bravo
peixe tentando escapar mas
ei-lo ao pé da frincha que
borbulha (esbugalha?)
roxa incha e mergulha em
brasa estala
e agora murcha
peixe-agulha e
vaza
vaza
V
Vencida pelo perfume das rosas,
pela investida dos violinos em rasante
desequilibrando a sala,
partida
como um graveto estala
em algum recanto do corpo
e deflagra o que não se decifra.
Descida no curso de um susto
entremeado de vertigens
(a meia-pálpebra, o rosto dissimula)
nua, sem bússola ela emborca
mergulha
afunda
na delícia da derrota.
Nenhum comentário:
Postar um comentário