Haicai
Vento da manhã
varre as folhas pelo chão
do dia que nasce.
Olhos de afogado:
são de ver coisas terríveis
no fundo do mar.
Fogueira
Os gnomos do bosque desabotoam
as toscas pelerines de cortiça
forradas com cetim púrpura e ouro:
o mais sanguíneo deles inaugura
um inferno menor, e todos dançam,
enquanto as labaredas tremem como
mãos de noivas sem tálamo, acenando
para o vento cantor que as chora ausentes
— e também chora, nas árvores altas,
a mágoa obscura de não serem flautas.
Tarefa
Morder o fruto amargo e não cuspir
mas avisar aos outros quanto é amargo,
cumprir o trato injusto e não falhar
mas avisar aos outros quanto é injusto,
sofrer o esquema falso e não ceder
mas avisar aos outros quanto é falso;
dizer também que são coisas mutáveis...
E quando em muitos a noção pulsar
— do amargo e injusto e falso por mudar —
então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano.
Alba
Não faz mal que amanheça devagar,
as flores não têm pressa nem os frutos:
sabem que a vagareza dos minutos
adoça mais o outono por chegar.
Portanto não faz mal que devagar
o dia vença a noite em seus redutos
de leste - o que nos cabe é ter enxutos
os olhos e a intenção de madrugar.
Outros papos
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