Alcachofra
Não é em altura que seu arbusto
se ombreia com o pinheiro:é pela fruta.
Íntima amiga da geometria,
do pinho tão só se distancia
pela recusa à agreste armadura.
Nenhum lampejo de indiferença
machuca-lhe a vestimenta:
antes a luz emprega no fabrico da alma
tenra (que lateja),
parente do alegre bem-me-quer,
do espelhante girassol.
Pertença da floricultura e da
boa
mesa, ornamenta o paladarcom a lembrança das nascentes:
não são de lâmina as escamas,
mas (degustáveis) dádivas mediterrâneas
dispostas no coração em tranca
Apenas pequenas setas mantém
(em íntima contenda)a provocar torneios entre língua e dentes.
– Cota de
cavaleiro andante,
em que terna demanda atuas?Silêncio de bronze
sobre as teias de aranha das pupilas.
Nada palpita no rosto tátil _
nem mesmo um poro.
Deslizo pela superfície imberbe
a gana de eriçá-la:
mas (munida apenas da arremetida suicida do touro)
sua mudez desarma o esforço.
Urna cerrada como o sol,
fui, foste, fomos,
e tudo ficou retido na divisa
(no escudo)
na nitidez desse rosto acuado
- dessa carranca com que hoje enfrento os mares.
Arte
ao Francisco José
Não distingo o que queres
e nem triunfo sobre
o enigma que nos atrai
(assim dessemelhantes).
Mas se adivinho o que há dentro do teu cenho
e se (acaso)
empreendo o que (querendo) não fazes por
consumar -
ganho (em troca)
a solidão patética de quem erra
por acertar.
O amor é isso:
cisco que tolda a vista
tão só pra se enxergar.
Cada palavra
(aqui)
se obstina em silêncio.
Contigo devoro os frutos da noite:
lua caiada em agonia
alguma chuva esparsa do lado boreal
poeira de estrelas profanando
o negro.
Só nossos dentes
brilham
Nenhum comentário:
Postar um comentário