O Verbo
o verbo
preexiste
às
areias do tempo
o
verbo
perfaz o
mundo
em seus
números
o
verbo
no espaço da
frase
conjuga
seu
traço múltiplo
o
verbo
molda-se em
carne
no
disfarce
da
palavra
o
verbo
se
apessoa
aos
enxertos
da
voz
o verbo
mal se conquista
- a doma é acerba
o verbo
se averba
Encontro
A antiga namorada
ressurgindo na rua
você
enxovalhado
cabelo e barba por fazer
vida de sacrifício
meio se
esconde
e ela passa
ainda jovem
talvez mais bonita
mais
mulher
bem tratada
vestido caro
você recorda
o primeiro
beijo
aquela paixão eterna
o baile de formatura
a profissão
abandonada
vai levando nos olhos
o tipo mignon
que outros braços
e
beijos
farão vibrar
recorda
poemas que lhe fez
o livro de
estréia
tão pobre e tão longe
tão dela impregnado
sente-se
velho
acabado
saudade da juventude
mas foi a sua opção
os filhos de
outra mulher
a literatura
vida tão avessa
assume
e na volta da
esquina
desaparece
a antiga namorada.
Confissão
Não direi
do desgaste a que me exponho
no trabalho e suor de me conter
sob muros
agressivos e silêncio
cuja acidez dentro de mim escalda
e me castiga as
vísceras e a pele.
Darei parcos indícios dessa algema
que vai mordendo,
abutre, o sangue e os nervos
e me abate e renasce ao infinito.
Percebo
presos ao asfalto os pés
e, feras, sobre mim convergem brasas
rugindo. E
pedregulhos, galhos de árvore,
limitam-me a visão e me povoam
a memória
de cifras e destroços.
Fui eu
Fui eu esse menino que me espia
- melancólico olhar, sereno
rosto,
postura fixa e o todo bem composto -
no retrato
que o tempo desafia.
Fui eu na minha infância fugidia
de prazeres ingênuos, e o
desgosto
de sentir tão efêmera a alegria
bem depressa
trocada em seu oposto.
Fui eu, sim; mas o tempo que perpassa
e tudo altera nem
sequer deixou
um grão de infância feito esmola escassa.
Fui eu: e na figura só ficou
o olhar desenganado, na
fumaça
em que a criança inteira se mudou.
Outros papos
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