À beira da piscina vazia
posicionadas de certo modo
três cadeiras brancas vazias
de certo modo se entreouvem
se entrefalam e entressilenciam.
Tsunami e vizinhança
Então , a mulher e a criança
seguiram uma serpente que nadou para terra firme
e conseguiram se salvar.
― A mulher
era só certa vizinha a quem, antes de morrer, a mãe
confiara a criança.
A serpente
terá sido, de repente, uma espécie de vizinha também.
― Vizinha de outra espécie.
Cola com anticolas
O make me an angle!
você aos céus implora
na cola de Dylan Thomas rogando
O make me a mask!
e na branca anticola
daquela artista paulista escovando
os dentes até não mais se ver
um pingo de rosto atrás
da máscara de pasta...
e na negra,
da cineasta belga engraxando
as botas e depois
as pernas e depois
incinerando a habitação
– Do Cosmo ao subsolo
na anticola vermelha de Cildo,
O make me an angle!
– insistes
na frente do espelho
passando o batom sem ultrapassar
limites... sem se desviar... respeitando
o contorno labial, o entorno social;
exorcizando
todo extra-artístico risco de escândalo
que algum milimétrico
impulso inoportuno possa criar
Distâncias incomensuráveis II
Grã-estrelas quebradiças
esfarelam-se na noite armazenária de um céu
com dobradiças
Muito e pouco
distam das estrelas
e da lua terra-a-terra de strass
que sobre a mesa de um camelô o sol mela
“A BBC sonhava com tudo o que eu – mas eu
só comigo sonhava!” gritou o Souza pelo oniaudiente
megafone estrelado instalado em sua mente
Pela TV se vê
que para atrair os índios, um espelho
foi deixado brilhando no matagal
Mas quem afasta
verdes feixes de elétrons
e penetra no vibrante capinzal distante
– sou eu –
índio trânsfuga que acha
a trânsfuga estrela no chão
Nenhum comentário:
Postar um comentário