Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

 Bio literária do autor até janeiro de 2022:


- Passagem de Nível, livro poesia, Galilei/Bsb, 1979.

- Prêmio Raimundo Correa, menção honrosa poema A Faca no Ar, Shogun/RJ, 1983. 

- A Faca no ar, livro poesia, edição do autor/Bsb, 1988.

- Tetraedro e Águas Emendadas, livros inéditos de poesia, Prêmio Jorge de Lima, menções honrosas, UBE/RJ, 1993.

- Prêmio Jorge de Lima, Vadândora, livro poesia, União Brasileira de Escritores/RJ, 1994.

- Os Pireneus e os Outros Eus, livro poesia, Relume-Dumará, RJ, 1996.

- Dois Oceanos, livro poesia, Barbara Bela editora/Bsb. 

- Prêmio Sec. Cultura/DF, 1999, livro Dois Oceanos.

- Prêmio Sociedade Lewis Carroll do Brasil/SP, 2010, Brasilice, miniconto.

- Degrau por degrau, livro romance, Kazuá/SP, 2017.

- A Casa Voadora, livro história infantil, Patuá/SP, 2019.

- Vadândora, livro poesia, Patuá/SP, 2020.

- O Menino do Bandolim, livro história infantil, Patuá/SP, 2020.

- Finalista do Concurso Allan Vigiano do Concurso do Sindicato dos Escritores de Brasília, Bsb, 2021.

- Poesias e contos em antologias, mídias sociais e imprensa escrita.

- Instagram: #poemativo e blog www.janeladepoemas.blogspot.com   

segunda-feira, 27 de abril de 2020




menino náufrago

onde deixei meu ursinho
a bola vermelha
o velocípede
o gato Chirubigo
a escola
minha casa
a jabuticabeira?

meus pais quando vêm?
estava no barco com eles
a praia está agora comigo
o mar não pode vir mais
não sei nadar
sinto frio

sonho com o arco-íris
dentro de um balão grande
cheio de gente e nuvens
a praia vem junto

domingo, 8 de março de 2020





Poeminha para Dorival Caymmi


a onda vem
o mar também
a onda sai
o mar se vai

se Caymmi estivesse aqui
as ondas parariam ali
para ele andar, para dar pé
deitar, banhar e rolar até
cantariam em alta voz
as canções que ele fez por nós

quarta-feira, 2 de outubro de 2019










Idade 

Mente o tempo:
a idade que tenho
só se mede por infinitos.
Pois eu não vivo por extenso.
Apenas fui a Vida
em relampejo do incenso.
Quando me acendi
foi nas abreviaturas do imenso.

Promessa de uma noite

cruzo as mãos
sobre as montanhas
um rio esvai-se
ao fogo do gesto
que inflamo
a lua eleva-se
na tua fronte
enquanto tacteias a pedra
até ser flor

Saudade

Que saudade
tenho de nascer.
Nostalgia
de esperar por um nome
como quem volta
à casa que nunca ninguém habitou.
Não precisas da vida, poeta.
Assim falava a avó.
Deus vive por nós, sentenciava.
E regressava às orações.
A casa voltava
ao ventre do silêncio
e dava vontade de nascer.
Que saudade
tenho de Deus.

Destino

à ternura pouca
me vou acostumando
enquanto me adio
servente de danos e enganos
vou perdendo morada
na súbita lentidão
de um destino
que me vai sendo escasso
conheço a minha morte
seu lugar esquivo
seu acontecer disperso
agora
que mais
me poderei vencer?

Espiral

No oculto do ventre,
o feto se explica como o Homem:
em si mesmo enrolado
para caber no que ainda vai ser.
Corpo ansiando ser barco,
água sonhando dormir,
colo em si mesmo encontrado.
Na espiral do feto,
o novelo do afecto
ensaia o seu primeiro infinito.



ASSIM

Nada
devo pedir
Sei o que quero
não sei o que me
quer. Então
ergo o rosto ao sol
e sigo - visível - ao
destino

ORAÇÃO

ao ouvir
a canção
silenciosa das
estrelas compreenderá
a solidão contemplativa
das palmeiras

PROPÓSITO

Viver pouco
mas viver muito
Ser todo o pensamento
Toda a esperança
Toda a alegria
ou angústia - mas ser

Nunca morrer
enquanto viver

CONTEMPLAÇÃO

Tuas mãos são grandes
e só querem as minhas
As minhas mãos pequenas
querem
o infinito

AS PRAIAS

As praias brancas
desertas
cansaram-se dos beijos do mar
Elas
estendem-se agora
preguiçosas
lânguidas
perdidas na rotina branca
das areias
As praias estão exaustas
dos afagos
do mar
Por isso elas são frias
e fazem castelos
em suas areias:

para o tempo passar

UM VISITANTE

Quem escreve
é
um visitante

Chega nas horas da noite
 e toma o lugar do
sono
Chega à mesa do almoço
come a minha fome

Escreve
o que eu nem supunha
Assina o meu nome

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Olga Savary



DAVID


Não sendo bicho nem deus
nem da raiz tendo a força
ou a eternidade da pedra,
o poeta nas palavras
põe essa força de nada:
sua funda é o poema.

CAIÇUÇÁUA


Sempre o verão
e algum inverno
nesta cidade sem outono
e pouca primavera:

tudo isto te vê entrar
em mim todo inteiro
e eu em fogo vou bebendo
todos os teus rios

com uma insaciável sede
que te segue às estações
no dia aceso.

Em tua água sim está meu tempo,
meu começo. E depois nem poder ordenar:
te acalma, minha paixão.

CONSTRUÇÃO


Eles são donos do mundo
e não sabem disso.
Daqui os vejo
bem no alto contra o espaço,
eles vem e vão
pássaros sérios
deslocando nuvens
Daqui os vejo criando
essa explosão precisa
de ferro cimento e paciência
— agora um bem pensado
esqueleto de superpostas vigas.
E a gente fica cismando como é belo
o que eles criam e o simples permanecer
de um operário no alto da sua construção.
O pequeno quadrado (que será elevador)
desce e sobe por ossos de madeira
do poço por eles trabalhado.
Eles constróem o mundo
eles divididos mas tão fortes
eles são o mundo
e não se importam.

Eles levantam os castelos de agora
castelões provisórios no alto de suas torres.

IRARUCA


Destino é o nome que damos
à nossa comodidade,
à covardia do não-risco,
do não-pegar-as-coisas-com-os-dentes.

Quanto a mim,
pátria é o que eu chamo poesia
e todas as sensualidades: vida.

Amor é o que eu chamo mar,
é o que eu chamo água.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Nicanor Parra



LA MONTAÑA RUSA

Durante medio siglo
La poesía fue
El paraíso del tonto solemne.
Hasta que vine yo
Y me instalé con mi montaña rusa.

Suban, si les parece.
Claro que yo no respondo si bajan
Echando sangre por boca y narices.



CRONOS

En Santiago de Chile
Los
     días
           son
               interminablemente
                                          largos:
Varias eternidades en un día.

Nos desplazamos a lomo de mula
Como los vendedores de cochayuyo:
Se bosteza. Se vuelve a bostezar.

Sin embargo las semanas son cortas
Los meses pasan a toda carrera
Ylosañosparecequevolaran.



PADRE NUESTRO

Padre nuestro que estás en el cielo
Lleno de toda clase de problemas
Con el ceño fruncido
Como si fueras un hombre vulgar y corriente
No pienses más en nosotros.

Comprendemos que sufres
Porque no puedes arreglar las cosas.
Sabemos que el Demónio no te deja tranquilo
Desconstruyendo lo que tú construyes.

Él se ríe de ti
Pero nosotros lloramos contigo:
No te preocupes de sus risas diabólicas.

Padre nuestro que estás donde estás
Rodeado de ángeles desleales
Sinceramente: no sufras más por nosotros
Tienes que darte cuenta
De que los dioses no son infalibles
Y que nosotros perdonamos todo



CREO EN UN + ALLÁ

Creo en un + allá
donde se cumplen todos los ideales
amistad
igualdad
fraternidad
excepción hecha de la libertad
ésa no se consigue en ninguna parte
somos esclavos x naturaleza