Fotografia
Que seria da memória
sem a fotografia?
Que seria do homem
sem seus vestígios?
Como saberíamos dos avós,
do rosto da infância de nossos filhos?
Que seria de nós
sem ancoragem
no tempo que esgarça e destrói?
Que seria de nós
sem nossos baús
de saudade
e de choro?
É a fotografia que segura relógios,
retorna calendários,
faz do passado presente,
num instante.
Fala do retrato denunciador,
da esperança sumida,
dos amores acabados,
cujas caras
não mais nos tocam.
Fala da finitude
das coisas,
da velocidade,
da vida.
Dá vida
ao já morto,
reacende olhares
por um instante.
Fala das lições
nunca aprendidas,
da esperança
na razão
sem razão.
Fala fotografia!
Dá notícias
do homem,
em seu difícil trajeto.
"O homem é um ser destinado à curiosidade. Indaga sempre e, quaisquer que sejam as respostas, põe-se insatisfeito. É um ser sempre em perda. Perde para o tempo que, inexoravelmente e impiedosamente, ignora sua inclinação para a perenidade e coloca-o em confronto com sua impossibilidade biológica. A memória significa um acervo de perdas, de algo passado e irrecuperável. O homem inventa processos de registro para não ser refém do esquecimento. É a memória que nos orienta no tempo, informa-nos sobre quem somos, de onde viemos e nos dá identidade ... Nossos álbuns de família têm um componente de crueldade cultivada, pois nos fazem reviver coisas já mortas e nos dão um certo compromisso com o relembrar. Eles carregam um travo de tristeza, misturado à lembrança de felicidades que já se foram". Luis Umberto Miranda de Assis Pereira.
(Poema e texto extraídos de seu livro Fotografia, a poética do banal, Editora UNB, Brasília, 2000)
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