Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

domingo, 27 de agosto de 2017

Degrau por degrau

Primeiro romance de José Carlos Peliano




Sinopse de Degrau por degrau, de José Carlos Peliano, Editora Kazuá, 2017


O pano de fundo é a história real de um ataque sexual mal sucedido de três rapazes à menina mais conhecida da escola. Invadem sua casa e acabam provocando sua queda escada abaixo, degrau por degrau, causando-lhe paraplegia e lesão cerebral irreversível.

A narrativa é contada a partir da figura de Tino, personagem principal, nada convencional, sertanejo de poucas palavras, com uma característica bastante peculiar, ele é um homem que sabe matar. Um matador, mas com critérios próprios. A trama passa a ser centrada e desenvolvida em sua vida, os casos que escolhe assumir e a maneira com a qual resolve cada um deles.

Quando menos se espera o leitor já está envolvido na trama criada e em meio a todos os personagens que a compõem, ávido por descobrir o rumo e o desfecho desse incrível suspense.



PREFÁCIO

Coube-me a honra de escrever o prefácio de Degrau por Degrau, a mais recente obra de José Carlos Peliano.
Economista, professor e pesquisador, autor de poesias e contos, o premiado escritor nos brinda agora com este romance, cuja narrativa, já nas primeiras linhas, capta a atenção do leitor, quer pela linguagem fluida, quer pelo próprio enredo, que traz à discussão um tema atual e presente em nosso quotidiano.
Neste romance, um incidente trágico e a certeza da impunidade fazem com que uma família desesperada busque por reparação e enverede por um caminho sem volta. Intriga, vingança, matadores de aluguel, aliados ao suspense que permeia toda a narrativa, são os ingredientes que dão vida à trama e aos personagens e conduzem o leitor a um desfecho inesperado.
Mais do que uma saborosa narrativa tecida pelas mãos do poeta, na qual a realidade humana e social foi tão bem retratada, Degrau por Degrau levará o leitor à reflexão sobre as mazelas da sociedade em que vivemos, na qual o poder econômico predomina cada vez mais sobre a ética e a justiça, na mesma medida em que o machismo, o preconceito e a intolerância sufocam diariamente a voz de um número crescente de vítimas anônimas.
Feito este prefácio, deixo o leitor entregue ao prazer da leitura,

Denise Rossato Agostinetti



quinta-feira, 10 de agosto de 2017

William Carlos Williams



Visão

A lua
ovoide
que na prensa negra
senta
abraçando seus joelhos,
se foi com pensamentos
acima
da cidade anelada.

As novas nuvens

A manhã quando eu primeiro te amei
tinha uma qualidade de delicada divisão a respeito e
uma leveza e uma luz repleta de
pequenas nuvens todas crescendo sobre o
chão que as criou, uma luz de
palavras num céu de papel, cada uma um significado
e todas juntas outro significado. Foi uma fala
quieta, tranquila mas reminiscente
e de preces — com uma perturbação
da espera. Sim! uma página grudada
por tudo aquilo não era, um significado mais
que significado do que o do texto cujas
pontas separadas eram as pontas do céu.

Uma mulher negra

levando um maço de calêndulas
enroladas
em um jornal velho:
Ela as leva verticais,
sem chapéu,
o volume
das suas coxas
fazendo-a gingar
enquanto anda
olhando para
a vitrine pela qual ela passa
em seu caminho.
O que será ela
se não uma embaixadora
de um outro mundo
um mundo repleto de calêndulas
de dois tons
que ela apresenta
sem saber o que fazer
além
de caminhar pelas ruas
levando as flores bem retas
como uma tocha
na manhã tão cedo.

A volta ao trabalho

Passeando suas
saias como galeões do sexo,
duas auxiliares de escritório
balançam desigualmente
juntas
descendo a larga escada,
uma
(conforme eu lentamente
sigo sob o vento alísio
do meu encanto)
suavemente
batendo nas coxas.