Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Saramago e eu


Saramago autografando seu livro Todos os Nomes para mim em meados dos anos noventa na Embaixada de Portugal em Brasília. Atrás de mim na 1ª foto e ao meu lado direito na 2ª o amigo poeta Ronaldo Cagiano.

la flor y el olivo
(de una mujer a un hombre)

la flor de todos, la flor del olivo
flor del aceite , de vida, de color
la flor que vive en mí y en ella vivo
ayer, hoy, siempre, la flor de mí amor

el árbol allí se queda sereno
de cuentos, luces y de eternidad
comparte la flor bello canto ajeno
de pájaros con alas sin edad

flor de pájaros, pájaros de flor
llenan de vida, aceite y de luces
el olivo plural del mirador
de cruces de recuerdos entre cruces



terça-feira, 24 de abril de 2012

Gonzagão MPB (Músico Poeta Brasileiro)

http://youtu.be/DdmolSUJVAo


Asa Branca

Quando "oiei" a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de "prantação"
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Quando o verde dos teus "óio"
Se "espaiar" na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração

Juazeiro

Juazeiro, juazeiro
Me arresponda, por favor,
Juazeiro, velho amigo,
Onde anda o meu amor
Ai, juazeiro
Ela nunca mais voltou,
Diz, juazeiro
Onde anda meu amor
Juazeiro, não te alembra
Quando o nosso amor nasceu
Toda tarde à tua sombra
Conversava ele e eu
Ai, juazeiro
Como dói a minha dor,
Diz, juazeiro
Onde anda o meu amor
Juazeiro, seje franco,
Ela tem um novo amor,
Se não tem, porque tu choras,
Solidário à minha dor
Ai, juazeiro
Não me deixa assim roer,
Ai, juazeiro
Tô cansado de sofrer
Juazeiro, meu destino
Tá ligado junto ao teu,
No teu tronco tem dois nomes,
Ele mesmo é que ecreveu
Ai, juazeiro
Eu num güento mais roer,
Ai, juazeiro
Eu prefiro inté morrer.
Ai, juazeiro...

Meu Pajeú

Já faz um ano e tanto
Que eu deixei meu Pajeú
Com tanta felicidade
Vim penar aqui no sul
Ai, hum!
Ai meu Deus
O que é que eu vou fazer
Longe do meu Pajeú
Não poderei viver
São Paulo tem muito ouro
Corre pratas pelo chão
O dinheiro corre tanto
Que eu não posso pegar não
Ai, hum!
Ai meu Deus
O que é que eu vou fazer
Longe do meu Pajeú
Não poderei viver
Paulista é gente boa
Mas é de lascar o cano
Eu nascí no Pajeú
Mas só me chamam de baiano
Ai, hum!
Ai meu Deus!
O que eu vou fazer
Longe do meu Pajeú
Não poderei viver
No dia em eu voltar
Vou fazer uma seresta
Vou rezar uma novena
Ao bom Jesus da Fuloresta
Ai meu Deus
O que eu vou fazer
Longe do meu Pajeú
Não poderei viver


Gonzaguinha MPB (Músico Poeta Brasileiro)

http://youtu.be/pwSnHuXBQyM

Acredito na Rapaziada

Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão
Eu vou à luta com essa juventude
Que não corre da raia a troco de nada
Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não tá na saudade e constrói
A manhã desejada
Aquele que sabe que é negro
o coro da gente
E segura a batida da vida o ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro
E apesar dos pesares ainda se orgulha de ser brasileiro
Aquele que sai da batalha
Entra no botequim, pede uma cerva gelada
E agita na mesa logo uma batucada
Aquele que manda o pagode
E sacode a poeira suada da luta e faz a brincadeira
Pois o resto é besteira
E nós estamos pelaí...
Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão
Eu vou á luta com essa juventude
Que não corre da raia a troco de nada
Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não tá na saudade e constrói
A manhã desejada
Aquele que sabe que é negro
o coro da gente
E segura a batida da vida o ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro
E apesar dos pesares ainda se orgulha de ser brasileiro
Aquele que sai da batalha
Entra no botequim, pede uma cerva gelada
E agita na mesa logo uma batucada
Aquele que manda o pagode
E sacode a poeira suada da luta e faz a brincadeira
Pois o resto é besteira
E nós estamos pelaí...
Eu acredito é na rapaziada

Começaria tudo outra vez

Começaria tudo outra vez
Se preciso fosse, meu amor
A chama em meu peito
Ainda queima, saiba!
Nada foi em vão...
A cuba-libre dá coragem
Em minhas mãos
A dama de lilás
Me machucando o coração
Na sêde de sentir
Seu corpo inteiro
Coladinho ao meu...
E então eu cantaria
A noite inteira
Como já cantei, cantarei
As coisas todas que já tive
Tenho e sei, um dia terei...
A fé no que virá
E a alegria de poder
Olhar prá trás
E ver que voltaria com você
De novo, viver
Nesse imenso salão...
Ao som desse bolero
Vida, vamo nós
E não estamos sós
Veja meu bem
A orquestra nos espera
Por favor!
Mais uma vez, recomeçar...

Um homem também chora (guerreiro menino)

Um homem também chora
Menina morena
Também deseja colo
Palavras amenas...
Precisa de carinho
Precisa de ternura
Precisa de um abraço
Da própria candura...
Guerreiros são pessoas
Tão fortes, tão frágeis
Guerreiros são meninos
No fundo do peito...
Precisam de um descanso
Precisam de um remanso
Precisam de um sono
Que os tornem refeitos...
É triste ver meu homem
Guerreiro menino
Com a barra do seu tempo
Por sobre seus ombros...
Eu vejo que ele berra
Eu vejo que ele sangra
A dor que tem no peito
Pois ama e ama...
Um homem se humilha
Se castram seu sonho
Seu sonho é sua vida
E vida é trabalho...
E sem o seu trabalho
O homem não tem honra
E sem a sua honra
Se morre, se mata...
Não dá prá ser feliz
Não dá prá ser feliz...
É triste ver meu homem
Guerreiro menino
Com a barra de seu tempo
Por sobre seus ombros...
Eu vejo que ele sangra
Eu vejo que ele berra
A dor que tem no peito
Pois ama e ama...
Um homem se humilha
Se castram seu sonho
Seu sonho é sua vida
E vida é trabalho...
E sem o seu trabalho
O homem não tem honra
E sem a sua honra
Se morre, se mata...
Não dá prá ser feliz
Não dá prá ser feliz...
Não dá prá ser feliz
Não dá prá ser feliz
Não dá prá ser feliz...

terça-feira, 17 de abril de 2012

Poema do mês - Fernando Pessoa

Navegar é Preciso                                                                    

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso."(*)

Quero para mim o espirito desta frase, transformada
A forma para a casar com o que eu sou: Viver não
É necessario; o que é necessario é criar.

Nao conto gozar a minha vida; nem em goza-la penso.
Só quero torna-la grande, ainda que para isso
Tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo.

Só quero torna-la de toda a humanidade; ainda que para isso
Tenha de a perder como minha.

Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho
Na essencia animica do meu sangue o propósito
Impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
Para a evolução da humanidade.

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.
.


 
(*) Nota de Soares Feitosa: "Navigare necesse; vivere non est necesse" - latim, frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC., dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu.

Sueli Costa

http://youtu.be/rr2oEcFemtg

Dentro de mim mora um anjo

Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que tem a boca pintada
Que tem as unhas pintadas
Que tem as asas pintadas
Que passa horas à fio
No espelho do toucador
Dentro de mim mora um anjo
Que me sufoca de amor
Dentro de mim mora um anjo
Montado sobre um cavalo
Que ele sangra de espora
Ele é meu lado de dentro
Eu sou seu lado de fora
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que arrasta suas medalhas
E que batuca pandeiro
Que me prendeu em seus laços
Mas que é meu prisioneiro
Acho que é colombina
Acho que é bailarina
Acho que é brasileiro
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim

Medo de amar nº 2

Você me deixa um pouco tonta
Assim meio maluca
Quando me conta essas tolices e segredos
E me beija na testa, e me morde na boca
E me lambe na nuca
Você me deixa surda e cega
Você me desgoverna
Quando me pega assim
Nos flancos e nas pernas
Como fosse o meu dono
Ou então meu amigo
Ou senão meu escravo
E eu sinto o corpo mole
E eu quase que faleço
Quando você me bole e bole
E mexe e mexe
E me bate na cara
E me dobra os joelhos
E me vira a cabeça
Mas eu não sei se quero ou se não quero
Esse insensato amor
Que eu desconheço
E que nem sei se é falso ou se é sincero
Que me despe e me vira pelo avesso
Não eu não sei se gosto ou se não gosto
De sentir o que eu sinto
E que me atormenta
E eu confesso que tremo desse sentimento
Que de repente chega
E que me ataca
E assim me faz perder-me
E nem saber se esses carinhos
São suaves ou velozes
Se o que escuto é o silêncio
Ou se ouço vozes

Jura Secreta

Só uma coisa me entristece
O beijo de amor que não roubei
A jura secreta que não fiz
A briga de amor que não causei
Nada do que posso me alucina
Tanto quanto o que não fiz
Nada do que eu quero me suprime
De que por não saber inda dão quis
Só uma palavra me devora
Aquela que meu coração não diz
Só o que me cega, o que me faz infeliz
É o brilho do olhar que não sofri

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Mário Lago

http://youtu.be/tiJKkVjdDWY

Salve a preguiça meu pai
Com meus pés, não vou
Venha me buscar
Mas só vou de colo
Pra não me cansar
O meu passo faz caminho
Mas se alguém não se agradou
Pra mudar vai dar trabalho
Com meus pés, não vou
Espinho não me amedronta
Nem pedra vai me assustar
Quem quer que eu saia da estrada
Venha me buscar
Com meus pés, não vou
Venha me buscar
Mas só vou de colo
Pra não me cansar
Oi, com meus pés não vou
Venha me buscar
Mas só vou de colo
Pra não me cansar
Com tristeza não me abalo
Com ameaça não me amolo
Pra brigar não tenho força
Mas só vou de colo
Quem quer, caminhe comigo
Vai ver que é bom de se andar
Quem não quiser me carregue
Pra eu não me cansar
(Salve a preguiça, meu pai
A preguiça é nossa
Já o português dizia que
O índio era preguiçoso
Porque não queria trabalhar pra ele
E se metia no meio do mato
Salve a preguiça, meu pai!)


Devolve
Devolve toda a tranqüilidade
Toda a felicidade
Que eu te dei e que perdi
Devolve todos os sonhos loucos
Que eu construí aos poucos
E te ofereci
Devolve, eu peço, por favor
Aquele imenso amor
Que nos teus braços esqueci
Devolve, que eu te devolvo ainda
Esta saudade infinda
Que eu tenho de ti


Fracasso
Relembro sem saudade o nosso amor
O nosso último beijo e último abraço
Porque só me ficou da história desse amor
A história dolorosa de um fracasso
Fracasso, por te querer assim como quis
Fracasso, por não saber fazer-te feliz
Fracasso, por te amar como a nenhuma outra amei
Chorar o que já chorei, fracasso eu sei
Fracasso, por compreender que devo esquecer
Fracasso, porque já sei que não esquecerei
Fracasso, fracasso, fracasso, fracasso afinal
Por querer tanto bem e me fazer tanto mal

Chacal (Ricardo de Carvalho)

Bermuda Larga

muitos lutam por uma causa justa
eu prefiro uma bermuda larga
só quero o que não me encha o saco
luto pelas pedras fora do sapato

Ossos do Ofício


sempre deixei as barbas de molho
porque barbeiro nenhum me ensinou
como manejar o fio da navalha

sempre tive a pulga atrás da orelha
porque nenhum otorrino me disse
como se fala aos ouvidos das pessoas

sou um cara grilado
um péssimo marido
nove anos de poesia
me renderam apenas
um circo de pulgas
e as barbas mais límpidas da turquia.


Fogo-Fátuo

ela é uma mina versátil
o seu mal é ser muito volúvel
apesar do seu jeito volátil
nosso caso anda meio insolúvel

se ela veste seu manto diáfano
sai de noite e só volta de dia
eu escuto os cantores de ébano
e espero ela chegar da orgia

ela pensa que eu sou fogo-fátuo
que me esquenta em banho-maria
se estouro sou pior que o átomo
ainda afogo essa nega na pia.


Garrincha

a maior glória do futebol
nasceu em Pau Grande só
pra sacanear o vernáculo.
e pra zombar da anatomia,
perna torta.

Isabel Mueller

Poesias de Alumbramento

I
As costas revoltas orlas
recostam meu ser
As baías funduras que avisto
que sonho e insisto sem nunca saber
Mas sentir é saber
e saber das vísceras é visão de têmporas
temporais que limpam o que ficou para trás
O que ontem eram medo
hoje só mais um enredo
de montanhas e tais.

II
Somos tão iguais nas buscas
mas ninguém se atreve à simplicidade
busca-se sofisticação
e vira treva a solidão
Um abraço pode bem mais
um sorriso cura
a alma em desaviso


III
Tudo pode ser
diferente eloqüente
semelhante abundante
O amor que se propaga
é sol que irradia
é espelho que reflete
de dentro a ventania

IV
Recolhe-te aos teus espaços
como as aves retornam aos ninhos
depois de muito ver do alto


Ana Martins Marques

Reparos

Algumas coisas
quando se quebram
são fáceis de consertar:
uma xícara lascada
uma estatueta de gesso
um sapato velho
uma receita que desanda
ou uma amizade arruinada.
Ainda que guardem
as marcas do remendo,
é possível que essas marcas
tenham um certo charme
como algumas cicatrizes.
Mas experimente consertar
um poema que estragou.

Em branco

Dizem que Cézanne
quando certa vez pintou um quadro
deixando inacabada parte de uma maçã
pintou apenas a parte da maçã
que compreendia.
É por isso
meu amor
que eu dedico a você
este poema
em branco.

Mesa

Mais importante que ter uma memória é ter uma mesa
mais importante que já ter amado um dia é ter uma mesa sólida
uma mesa que é como uma cama diurna
com seu coração de árvore, de floresta
é importante em matéria de amor não meter os pés pelas mãos
mas mais importante é ter uma mesa
porque uma mesa é uma espécie de chão que apoia
os que ainda não caíram de vez.

Trapézio

Uma vez vendo um número de circo
apenas razoável
à noite
numa praça do interior
(tédio e susto, alcoóis fortes, lua baça)
foi que eu me dei conta de que
nunca houve um trapezista
que não estivesse apaixonado.
Todos os poemas são de amor.

sábado, 14 de abril de 2012

Juan Guelman

Mi Buenos Aires Querido

Sentado al borde de una silla desfondada,
mareado, enfermo, casi vivo,
escribo versos previamente llorados
por la ciudad donde nací.

Hay que atraparlos, también aquí
nacieron hijos dulces míos
que entre tanto castigo te endulzan bellamente.
Hay que aprender a resistir.

Ni a irse ni a quedarse,
a resistir,
aunque es seguro
que habrá más penas y olvido.


Ausencia de amor

Cómo será pregunto.
Cómo será tocarte a mi costado.
Ando de loco por el aire
que ando que no ando.

Cómo será acostarme
en tu país de pechos tan lejano.
Ando de pobrecristo a tu recuerdo
clavado, reclavado.

Será ya como sea.
Tal vez me estalle el cuerpo todo lo que he esperado.
Me comerás entonces dulcemente
pedazo por pedazo.

Seré lo que debiera.
Tu pie. Tu mano.

 Escribo en el olvido

Escribo en el olvido
en cada fuego de la noche
cada rostro de ti.
Hay una piedra entonces
donde te acuesto mía,
ninguno la conoce,
he fundado pueblos en tu dulzura,
he sufrido esas cosas,
eres fuera de mí,
me perteneces extranjera.

La Victoria

En un libro de versos salpicado
por el amor, por la tristeza, por el mundo,
mis hijos dibujaron señoras amarillas,
elefantes que avanzan sobre paraguas rojos,
pájaros detenidos al borde de una página,
invadieron la muerte,
el gran camello azul descansa sobre la palabra ceniza,
una mejilla se desliza por la soledad de mis huesos,
el candor vence al desorden de la noche.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Ernesto Cardenal

Al perderte

Al perderte yo a ti,
tu y yo hemos perdido:
yo por que tu eres
lo que yo más amaba
y tú porque yo era
el que te amaba más.

Pero de nosotros dos,
tú pierdes más que yo:
porque yo podré amar a otras,
como te amaba a ti,

Epigramas

Te doy Claudia, estos versos,
porque tú eres su dueña.
Los he escrito sencillos
para que tú los entiendas.
Son para ti solamente,
pero si a ti no te interesan,
un día se divulgarán,
tal vez por toda Hispanoamérica…
Y si al amor que los dictó,
tú también lo desprecias,
otras soñarán
con este amor
que no fue para ellas.
Y tal vez verás,
Claudia,
que estos poemas,
(escritos para conquistarte a ti)
despiertan
en otras parejas
enamoradas que los lean
los besos que en ti
no despertó el poeta.
Al perderte yo a ti,
tú y yo hemos perdido:
yo, porque tú eras
lo que yo más amaba,
y tú, porque yo era
el que te amaba más.
Pero de nosotros dos,
tú pierdes más que yo:
porque yo podré
amar a otras
como te amaba a ti,
pero a ti nadie te amará
como te amaba yo.
Muchachas que algún día
leaís emocionadas estos versos
Y soñéis con un poeta
Sabed que yo los hice
para una como vosotras
y que fue en vano.
pero a ti no te amarám
como te amaba yo.

Salmo I

Bienaventurado el hombre que no sigue las consignas del Partido
ni asiste a sus mítines
ni se sienta en la mesa con los gangsters
ni con los Generales en el Consejo de Guerra
Bienaventurado el hombre que no espía a su hermano
ni delata a su compañero de colegio
Bienaventurado el hombre que no lee llos anuncios comerciales
ni escucha sus radios
ni cree en sus slogans.

Será como un árbol plantado junto a una fuente.


Estrellas

Y el cielo estrellado es como una ciudad de noche
vista desde un avión: las estrellas son como calles
como supermercados iluminados/ anúncios de néon
como moteles night-clubs cines y luces
— blancas y rojas — de los carros — que van y vienen —por carreteras oscuras...y se queman para nada:
un derroche de energía en la perpetua noche
como la energia aquí — abajo perdida en el vacío en avenidas tiendas cafés night-clubes moteles
cines son una superproducción de Clark Gable!



O

Khalil Gibran

Children

Your children are not your children.
They are the sons and daughters of Life's longing for itself.
They come through you but not from you,
And though they are with you, yet they belong not to you.
You may give them your love but not your thoughts.
For they have their own thoughts.
You may house their bodies but not their souls,
For their souls dwell in the house of tomorrow, which you cannot visit, not even in your dreams.
You may strive to be like them, but seek not to make them like you.
For life goes not backward nor tarries with yesterday.
You are the bows from which your children as living arrows are sent forth.
The archer sees the mark upon the path of the infinite, and He bends you with His might that His arrows may go swift and far.
Let your bending in the archer's hand be for gladness;
For even as he loves the arrow that flies, so He loves also the bow that is stable.

A Tear and a Smile

I would not exchange the sorrows of my heart
For the joys of the multitude.
And I would not have the tears that sadness makes
To flow from my every part turn into laughter.

I would that my life remain a tear and a smile.

A tear to purify my heart and give me understanding
Of life's secrets and hidden things.
A smile to draw me nigh to the sons of my kind and
To be a symbol of my glorification of the gods.

A tear to unite me with those of broken heart;
A smile to be a sign of my joy in existence.

I would rather that I died in yearning and longing than that I live Weary and despairing.

I want the hunger for love and beauty to be in the
Depths of my spirit,for I have seen those who are
Satisfied the most wretched of people.
I have heard the sigh of those in yearning and Longing, and it is sweeter than the sweetest melody.

With evening's coming the flower folds her petals
And sleeps, embracingher longing.
At morning's approach she opens her lips to meet
The sun's kiss.

The life of a flower is longing and fulfilment.
A tear and a smile.

The waters of the sea become vapor and rise and come
Together and area cloud.

And the cloud floats above the hills and valleys
Until it meets the gentle breeze, then falls weeping
To the fields and joins with brooks and rivers to Return to the sea, its home.

The life of clouds is a parting and a meeting.
A tear and a smile.

And so does the spirit become separated from
The greater spirit to move in the world of matter
And pass as a cloud over the mountain of sorrow
And the plains of joy to meet the breeze of death
And return whence it came.

To the ocean of Love and Beauty----to God.

Death (XXVII)

You would know the secret of death.
But how shall you find it unless you seek it in the heart of life?
The owl whose night-bound eyes are blind unto the day cannot unveil the mystery of light.
If you would indeed behold the spirit of death, open your heart wide unto the body of life.
For life and death are one, even as the river and the sea are one.
In the depth of your hopes and desires lies your silent knowledge of the beyond;
And like seeds dreaming beneath the snow your heart dreams of spring.
Trust the dreams, for in them is hidden the gate to eternity.
Your fear of death is but the trembling of the shepherd when he stands before the king whose hand is to be laid upon him in honour.
Is the shepherd not joyful beneath his trembling, that he shall wear the mark of the king?
Yet is he not more mindful of his trembling?
For what is it to die but to stand naked in the wind and to melt into the sun?
And what is to cease breathing, but to free the breath from its restless tides, that it may rise and expand and seek God unencumbered?
Only when you drink from the river of silence shall you indeed sing.
And when you have reached the mountain top, then you shall begin to climb.
And when the earth shall claim your limbs, then shall you truly dance.     

Elizabeth Bishop

Anaphora

Each day with so much ceremony
begins, with birds, with bells,
with whistles from a factory;
first open on, such brilliant walls
The day was meant for what ineffable creature
that for a moment we wonder"Where is the music coming from, the energy?
we must have missed?" Oh promptly he
appears and tak
such white-gold skies our eyeses his earthly nature
instantly, instantly falls
victim of long intrigue,
assuming memory and mortal
mortal fatigue.

More slowly falling into sight
and showering into stippled faces,
darkening, condensing all his light;
in spite of all the dreaming
squandered upon him with that look,
suffers our uses and abuses,
sinks through the drift of bodies,
sinks through the drift of vlasses
to evening to the beggar in the park
who, weary, without lamp or book
prepares stupendous studies:
the fiery event
of every day in endless
endless assent.
   
Converstion

The tumult in the heart
keeps asking questions.
And then it stops and undertakes to answer
in the same tone of voice.
No one could tell the difference.

Uninnocent, these conversations start,
and then engage the senses,
only half-meaning to.
And then there is no choice,
and then there is no sense;

until a name
and all its connotation are the same

Casablanca

Love's the boy stood on the burning deck
trying to recite `The boy stood on
the burning deck.' Love's the son
stood stammering elocution
while the poor ship in flames went down.

Love's the obstinate boy, the ship,
even the swimming sailors, who
would like a schoolroom platform, too,
or an excuse to stay
on deck. And love's the burning boy.
   
A Prodigal

The brown enormous odor he lived by
was too close, with its breathing and thick hair,
for him to judge. The floor was rotten; the sty
was plastered halfway up with glass-smooth dung.
Light-lashed, self-righteous, above moving snouts,
the pigs' eyes followed him, a cheerful stare--
even to the sow that always ate her young--
till, sickening, he leaned to scratch her head.
But sometimes mornings after drinking bouts
(he hid the pints behind the two-by-fours),
the sunrise glazed the barnyard mud with red
the burning puddles seemed to reassure.
And then he thought he almost might endure
his exile yet another year or more.

But evenings the first star came to warn.
The farmer whom he worked for came at dark
to shut the cows and horses in the barn
beneath their overhanging clouds of hay,
with pitchforks, faint forked lightnings, catching light,
safe and companionable as in the Ark.
The pigs stuck out their little feet and snored.
The lantern--like the sun, going away--
laid on the mud a pacing aureole.
Carrying a bucket along a slimy board,
he felt the bats' uncertain staggering flight,
his shuddering insights, beyond his control,
touching him. But it took him a long time
finally to make up his mind to go home.    

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Catullo da Paixão Cearense - MPB (Músico Poeta Brasileiro)

http://youtu.be/l0NnKPiO0qk

Ontem ao luar

Ontem, ao luar,nós dois em plena solidão
Tu me perguntaste o que era a dor de uma paixão.
Nada respondi, calmo assim fiquei
Mas, fitando o azul do azul do céu
A lua azul eu te mostrei
Mostrando-a ti, dos olhos meus correr senti
Uma nívea lágrima e, assim, te respondi
Fiquei a sorrir por ter o prazer
De ver a lágrima nos olhos a sofrer
A dor da paixão não tem explicação
Como definir o que eu só sei sentir
É mister sofrer para se saber
O que no peito o coração não quer dizer
Pergunta ao luar, travesso e tão taful
De noite a chorar na onda toda azul
Pergunta, ao luar,do mar à canção
Qual o mistério que há na dor de uma paixão
Se tu desejas saber o que é o amor
E sentir o seu calor
O amaríssimo travor do seu dulçor
Sobe um monte á beira mar, ao luar
Ouve a onda sobre a arei-a a lacrimar
Ouve o silêncio a falar na solidão
De um calado coração
A penar, a derramar os prantos seus
Ouve o choro perenal
A dor silente, universal
E a dor maior, que é a dor de Deus

Luar do Sertão

Não há, ó gente, oh não
Luar como este do sertão...
Oh que saudade do luar da minha tema
Lá na serra branquejando
Folhas secas pelo chão
Esse luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade
Do luar lá do sertão
Se a lua nasce por delas da verde mata
Mais porem um sol de prata prateando a solidão
A gente pega na viola que ponteia
E a canção é a lua cheia
A nos nascer do coração
Se Deus me ouvisse
Com amor e caridade
Me faria essa vontade
O ideal do coração:
Era que a morte
A descontar me surpreendesse
E eu morresse numa noite
De luar do meu sertão

A Flor de Maracujá

Encontrando-me com um sertanejo,
Perto de um pé de maracujá,
Eu lhe perguntei:
Diga-me caro sertanejo,
Porque razão nasce branca e roxa,
A flor do maracujá?
Ah, pois então eu lhi conto,
A estória que ouvi contá,
A razão pro que nasci branca i roxa,
A frô do maracujá.
Maracujá já foi branco,
Eu posso inté lhe ajurá,
Mais branco qui caridadi,
Mais brando do que o luá.
Quando a frô brotava nele,
Lá pros cunfim do sertão,
Maracujá parecia,
Um ninho de argodão.
Mais um dia, há muito tempo,
Num meis que inté num mi alembro,
Si foi maio, si foi junho,
Si foi janeiro ou dezembro.
Nosso sinhô Jesus Cristo,
Foi condenado a morrê,
Numa cruis crucificado,
Longe daqui como o quê,
Pregaro cristo a martelo,
E ao vê tamanha crueza,
A natureza inteirinha,
Pois-se a chorá di tristeza.
Chorava us campu,
As foia, as ribeira,
Sabiá tamém chorava,
Nos gaio a laranjera,
E havia junto da cruis,
Um pé de maracujá,
Carregadinho de frô,
Aos pé de nosso sinhô.
I o sangue de Jesus Cristo,
Sangui pisado de dô,
Nus pé du maracujá,
Tingia todas as frô,
Eis aqui seu moço,
A estória que eu vi contá,
A razão proque nasce branca i roxa,
A frô do maracujá

Milton Nascimento - MPB (Músico Poeta Brasileiro)

http://youtu.be/ZRG9TaNDaRc

Bola de meia, bola de gude

Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão
Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal
Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão

Cais

Para quem quer se soltar invento o cais
Invento mais que a solidão me dá
Invento lua nova a clarear
Invento o amor e sei a dor de me lançar
Eu queria ser feliz
Invento o mar
Invento em mim o sonhador
Para quem quer me seguir eu quero mais
Tenho o caminho do que sempre quis
E um saveiro pronto pra partir
Invento o cais
E sei a vez de me lançar

Circo Marimbondo

Circo Marimbondo
Circo Marambaia
Eu cheguei de longe
Não me "atrapaia"
Vê se não me amola
Larga a minha saia
Circo Marimbondo
Circo Marambaia
Se eu te der um tombo
Tomara que caia

Eldorado

Quem te ensinou viver
Menino, quem foi teu mestre e mais
quem diz que vem do amor
E chega pra derramar meu ais
Quem te ensinou esperar
Não perde por esperar demais
Beira do cais estou
Na beira de uma saudade a mais
Volta para a estrada, gente cigana
vamos festejar o pouco que há
Nad se compara à farra da terra
Quando a caravana passa por lá
Eu tambem fiz vinte anos Eldorado
E a caravana quis me levar
Me jogaram pra dormir num chão de cadeia
No meu sonho eu via as ondas do mar
Olhos que deram luz nos meus olhos
Nesse olhos onde estrelas vem se mirar
Caros olhos negors espelho da seda
Matam de saudade e o resto é lenda
É lenda
Quis te conhecer melhor, veio a madrugada
E me carregou pra um outro lugar
Muita coisa eu esqueci no fundo da mala
Mas não me separo daqule olhar
Não se poderá dizer não é de nada
Olhos que são meus de tanto sonhar
Não me lembro de ninguem com olhos mais negros
Nem manhã mais clara de se lembrar
Eu tambem fiz vinte anos Eldorado
E a caravana quis me levar
Me jogaram pra dormir num chão de cadeia
lam no galope as ondas do mar

terça-feira, 10 de abril de 2012

Ari Barroso - MPB (Músico Poeta Brasileiro)

http://youtu.be/HkQyK-OxUWw

Aquarela do Brasil

Brasil, meu Brasil Brasileiro,
Meu mulato inzoneiro,
Vou cantar-te nos meus versos:
O Brasil, samba que dá
Bamboleio, que faz gingar;
O Brasil do meu amor,
Terra de Nosso Senhor.
Brasil!... Brasil!... Prá mim!... Prá mim!...
Ô, abre a cortina do passado;
Tira a mãe preta do cerrado;
Bota o rei congo no congado.
Deixa cantar de novo o trovador
À merencória à luz da lua
Toda canção do meu amor.
Quero ver essa Dona caminhando
Pelos salões, arrastando
O seu vestido rendado.
Brasil!... Brasil! Prá mim ... Prá mim!...
Brasil, terra boa e gostosa
Da moreninha sestrosa
De olhar indiferente.
O Brasil, verde que dá
Para o mundo admirar.
O Brasil do meu amor,
Terra de Nosso Senhor.
Brasil!... Brasil! Prá mim ... Prá mim!...
Esse coqueiro que dá coco,
Onde eu amarro a minha rede
Nas noites claras de luar.
Ô! Estas fontes murmurantes
Onde eu mato a minha sede
E onde a lua vem brincar.
Ô! Esse Brasil lindo e trigueiro
É o meu Brasil Brasileiro,
Terra de samba e pandeiro.
Brasil!... Brasil!

Boneca de Piche

Venho danado com meus calo quente
Quse enforcado no meu colarinho
Venho empurrando quase toda a gente, Eh! Eh!
Pra ver meu benzinho. Eh! Eh! Pra ver meu benzinho
Nego tu veio quase num arranco
Cheio de dedo dentro dessas luva
Bem que o ditado diz: nego de branco (Eh! Eh!)
É sinar de chuva. Eh! Eh! É sinar de chuva
Da cor do azeviche, da jaboticaba
Boneca de piche, é tu que me acaba
Sou preto e meu gosto, ninguém me contesta,
Mas há muito branco com pinta na testa
Tem português assim nas minhas água
Que culpa eu tenho de ser boa mulata
Nego se tu borrece minhas mágoa (Eh! Eh!)
Eu te dou a lata. Eh! Eh! Eu te dou lata
Não me farseia ó muié canaia,
Se tu me engana vai haver banzé
Eu te sapeco dois rabo-de-arraia, muié (Eh!, Eh!)
E te piso o pé. Eh! Eh! E te piso o pé
Da cor do azeviche, da jabuticaba
Boneca de piche, sou eu que te acaba
Tu é preto e teu gosto ninguém te contesta
Mas há muito branco com pinta na testa
Sou preto e meu gosto ninguém me contesta
Mas há muito branco com pinta na testa

No rancho fundo

No rancho fundo bem pra lá do fim do mundo
Onde a dor e a saudade contam coisas da cidade
No rancho fundo, de olhar triste e profundo
Um moreno canta as mágoas
Tendo os olhos rasos d'água
Pobre moreno que de tarde no sereno
Espera a lua no terreiro
Tendo o cigarro por companheiro
Sem um aceno ele pega na viola
E a lua por esmola vem pro quintal deste moreno
 
No rancho fundo bem pra lá do fim do mundo 
Nunca mais houve alegria
Nem de noite,nem de dia
Os arvored os já não contam mais segredos
Que a última palmeira já morreu na cordilheira
Os passarinhos enterraram-se nos ninhos
De tão triste essa tristeza enche de treva a natureza
Tudo por que? Só por causa do moreno
Que era grande, hoje é pequeno
Para uma casa de sapê

Risque

Risque meu nome do seu caderno
Pois não suporto o inferno
Do nosso amor fracassado
Deixe que eu siga novos caminhos
Em busca de outros carinhos
Matemos nosso passado
Mas se algum dia, talvez
A saudade apertar
Não se perturbe
Afogue a saudade
Nos copos de um bar
Creia
Toda quimera se esfuma
Como a beleza da espuma
Que se desmancha na areia

sábado, 7 de abril de 2012

Antônio Cícero

Balanço

A infância não foi uma manhã de sol:
demorou vários séculos; e era pífia,
em geral, a companhia. Foi melhor,
em parte, a adolescência, pela delícia
do pressentimento da felicidade
na malícia, na molícia, na poesia,
no orgasmo; e pelos livros e amizades.
Um dia, apaixonado, encarei a minha
morte: e eis que ela não sustentou o olhar
e se esvaiu. Desde então é a morte alheia
que me abate. Tarde aprendi a gozar
a juventude, e já me ronda a suspeita
de que jamais serei plenamente adulto:
antes de sê-lo, serei velho. Que ao menos
os deuses façam felizes e maduros
Marcelo e um ou dois dos meus futuros versos.

Aparências

Não sou mais tolo não tenho mais queixas:
enganasse-me mais desenganasse-me mais
mais rápida mais tempo mais voraz e arrebatadora
mais volúvel mais volátil
mais aparecesse para mim e desaparecesse
mais velasse mais desvelasse mais revelasse mais re-
velasse mais
eu viveria tantas mortes
morreria tantas vidas
jamais me queixaria
jamais.

Ícaro

Buscando as profundezas do céu
conheceu Ícaro as do mar
Adeus poeira olímpica
grãos da Líbia
barcos de Chipre
Adeus riquezas de Átalo
vinhos do Mássico
coroas de louro
flautas e liras
Adeus cabeça nas estrelas,
Adeus amigos
mulheres
efebos
Adeus sol:
Ouro algum permanece.

Carlos Vogt

Sábado
Depois de amanhã
vou recomeçar vida nova:
ao invés de subir pelas paredes
toda vez que a vejo com felicidade
vou descer a pé
ante pé
a ladeira da saudade

Afresco
No banco de jardim
da praça Santa Rita de Cássia
em Sales Oliveira
sentados meu pai e eu
- ambos ausentes: um pela morte
outro pela vida -
resolvemos lembrar
as velhas sombras
que abrigam
os esquecidos

Despojamento

Deitou-se a céu aberto
com chuvas e trovoadas
teve de recolher-se
das estrelas
de sua imaginação

Mimese
Se a vida imita a arte
como punir
o plágio da existência?

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Margaret Atwood

Habitation

Marriage is not
a house or even a tent

it is before that, and colder:

The edge of the forest, the edge
of the desert
the unpainted stairs
at the back where we squat
outside, eating popcorn

where painfully and with wonder
at having survived even
this far

we are learning to make fire

More and more

More and more frequently the edges
of me dissolve and I become
a wish to assimilate the world, including
you, if possible through the skin
like a cool plant's tricks with oxygen
and live by a harmless green burning.

I would not consume
you or ever
finish, you would still be there
surrounding me, complete
as the air.

Unfortunately I don't have leaves.
Instead I have eyes
and teeth and other non-green
things which rule out osmosis.

So be careful, I mean it,
I give you fair warning:

This kind of hunger draws
everything into its own
space; nor can we
talk it all over, have a calm
rational discussion.

There is no reason for this, only
a starved dog's logic about bones.

The Moment

The moment when, after many years
of hard work and a long voyage
you stand in the centre of your room,
house, half-acre, square mile, island, country,
knowing at last how you got there,
and say, I own this,

is the same moment when the trees unloose
their soft arms from around you,
the birds take back their language,
the cliffs fissure and collapse,
the air moves back from you like a wave
and you can't breathe.

No, they whisper. You own nothing.
You were a visitor, time after time
climbing the hill, planting the flag, proclaiming.
We never belonged to you.
You never found us.
It was always the other way round.     

Paulo Henrique Britto

Sonetilho de verão

Traído pelas palavras.
O mundo não tem conserto.
Meu coração se agonia.
Minha alma se escalavra.
Meu corpo não liga não.
A idéia resiste ao verso,
o verso recusa a rima,
a rima afronta a razão
e a razão desatina.
Desejo manda lembranças.

O poema não deu certo.
A vida não deu em nada.
Não há deus. Não há esperança.
Amanhã deve dar praia.


Insônia

Na noite imperturbável,
infinitamente leve
a consciência se esbate,
espécie de semente
sobre um campo de neve
neve macia e negra
intensamente morna
onde o tempo se esquece
na inércia indiferente
das coisas que só dormem


onde, alheia ao mistério
de tudo ser evidente,
inteiramente encerrada
dentro do espaço exíguo
que é dado a uma semente


inútil como fruta
que não foi descascada
e apodreceu no pé,
jaz a semente aguda
profundamente acordada.


Materiais (de Liturgia da matéria)

A utilidade da pedra:
fazer um muro ao redor
do que não dá para amar
nem destruir.
A utilidade do gelo:
apaga tudo que arde
ou pelo menos disfarça.


A utilidade do tempo:
o silêncio.

domingo, 1 de abril de 2012

Mário Benedetti

Amor de tarde

Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cuatro
y acabo la planilla y pienso diez minutos
y estiro las piernas como todas las tardes
y hago así con los hombros para aflojar la espalda
y me doblo los dedos y les saco mentiras.
Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las cinco
y soy una manija que calcula intereses
o dos manos que saltan sobre cuarenta teclas
o un oído que escucha como ladra el teléfono
o un tipo que hace números y les saca verdades.
Es una lástima que no estés conmigo
cuando miro el reloj y son las seis.
Podrías acercarte de sorpresa
y decirme “¿Qué tal?” y quedaríamos
yo con la mancha roja de tus labios
tú con el tizne azul de mi carbónico.

Escondido y de lejos

¡Qué te ha dado el pasado?
¿la fuga que te mira en el espejo?
¿aquel fantasma que te desbarata?
¿la sombra de tus nubes? ¿la intemperie?
Rápido como el río ha transcurrido
pero ocurre que el río no envejece
pasa con sus crujientes y sus ramas
sus duendes y su cielo giratorio.
Quedaron armoniosos pero inmóviles
tu mayo de piedad, tus artilugios
todo el prodigio se volvió espesura
y la espesura se llenó de tedio;
ya no llueve en tu olvido, ni siquiera
en tu pobre redoma o en las tapias,
aunque el pasado está escondido y lejos
no tienes más remedio que mirarlo.

Botella al mar

Pongo estos seis versos en mi botella al mar
con el secreto designio de que algún día
llegue a una playa casi desierta
y un niño la encuentre y la destape
y en lugar de versos extraiga piedritas
y socorros y alertas y caracoles.

Ahora todo está claro

Cuando el presidente carter
se preocupa tanto
de los derechos humanos
parece evidente que en ese caso
derecho no significa facultad
o atributo
o libre albedrío
sino diestro
o antizurdo
o flanco opuesto al corazón
lado derecho en fin
en consecuencia
¿no sería hora
de que iniciáramos
una amplia campaña internacional
por los izquierdos humanos?

Dorival Caymmi MPB (Músico Poeta Brasileiro)

http://youtu.be/WnxqklQH88E (Em homenagem a minha filha querida mais nova)


Morena do Mar

Ô morena do mar, oi eu, ô morena do mar
Ô morena do mar,sou eu que acabei de chegar
Ô morena do mar
Eu disse que ia voltar
Ai,eu disse que ia chegar,
Cheguei
Ô morena do mar, oi eu, Ô morena do mar
Ô morena do mar,sou eu que acabei de chegar
Ô morena do mar
Eu disse que ia voltar
Ai,eu disse que ia chegar,
Cheguei
Para te agradar
Ai,eu trouxe os peixinhos do mar
Morena
Para te enfeitar,
Eu trouxe as conchinhas do mar
As estrelas do céu
Morena
E as estrelas do mar
Ai,as pratas e os ouros de Iemanjá
Ai,as pratas e os ouros de Iemanjá

Roda Pião

Quando a gente é criancinha
Canta quadras pra brincar
Quando fica gente grande
Ouve quadras a chorar
Como comove a lembrança
De um tempo feliz
Quando ouvimos cantar
Roda, pião
Bambeia, ô pião
O pião entrou na roda, ô pião
Roda, pião
Bambeia, ô pião
Sapateia no tijolo, ô pião
Roda, pião
Bambeia, ô pião
Passa de um lado pro outro, ô pião
Roda, pião
Bambeia, ô pião
Também a vida da gente
É um pião sempre a rodar
Um pião que também pára
Quando o tempo o faz cansar

Das Rosas

Nada como ser rosa na vida
Rosa mesmo ou mesmo rosa mulher
Todos querem muito bem a rosa
Quero eu ....
Todo mundo também quer
Um amigo meu disse que em samba
Canta-se melhor flor e mulher
E eu que tenho rosas como tema
canto no compasso que quiser

Rosas...rosas ... rosas...
Rosas formosas são rosas de mim
Rosas a me confundir / Rosas a te confundir
Com as rosas, as rosas, as rosas, de abril
Rosas... rosas... rosas...
Rosas mimosas são rosas de ti
Rosas a me confundir / Rosas a te confundir
Com as rosas, as rosas, as rosas de abril
Rosas a me confundir / Rosas a te confundir
São muitas...são tantas / São todas tão rosas

Só Louco

Só louco
Amou como eu amei
Só louco
Quis o bem que eu quis
Oh! insensato coração
Por que me fizeste sofrer
Por que de amor para entender
É preciso amar
Porque
Só louco

Álvares de Azevedo

Soneto

Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! Na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! O seio palpitando...
Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti - as noites eu velei chorando,
Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!

Adeus, Meus Sonhos!

Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!

Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh'alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.

Que me resta, meu Deus?
Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já não vejo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores

Se Eu Morresse Amanhã

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã,
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que doce n’alva
Acorda ti natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!