“Criar é, basicamente, formar. É poder dar uma forma a algo novo. Em qualquer que seja o campo de atividade, trata-se, nesse ´novo´, de novas coerências que se estabelecem para a mente humana, fenômenos relacionados de modo novo e compreendidos em termos novos. O ato criador abrange, portanto, a capacidade de compreender, e esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar, configurar, significar.
Desde as primeiras culturas, o ser humano surge dotado de um dom singular: mais do que ´homo faber´, ser fazedor, o homem é um ser formador. Ele é capaz de estabelecer relacionamentos entre os múltiplos eventos que ocorrem ao redor e dentro dele. Relacionando os eventos, ele os configura em sua experiência do viver e lhes dá um significado. Nas perguntas que o homem faz ou nas soluções que encontra, ao agir, ao imaginar, ao sonhar, sempre o homem relaciona e forma” (Fayga Ostrower, Criatividade e Processos de Criação, p. 9, 12ª edição, Editora Vozes, Petrópolis, 1977).“O homem sempre se maravilhou de sua própria mão. Imprimiu-a nas paredes das cavernas pré-históricas em vários lugares do mundo e decerto o homem arcaico atribuía poderes mágicos a este prodigioso instrumento de ação que ele possuía e lhe permitia realizar coisas inacessíveis aos mais fores e temidos animais.
No Elogio da Mão, Henri Focillon diz que ´a posse do mundo exige uma espécie de faro tátil. Av visão desliza ao longo do universo ... A ação da mão define o vazio do espaço e o pleno das coisas que o ocupam. Superfície, volume, densidade, peso, não são fenômenos óticos. É entre os dedos, é no côncavo das mãos que o homem os conheceu primeiro. O espaço, ele o mede não com o olhar, mas com sua mão e seus passos ... Sem a mão não existe geometria, pois são necessários barras e redondos para especular as propriedades da extensão” (Nise da Silveira, Imagens do Inconsciente, p. 25, Editora Alhambra, Rio de Janeiro, 1982).As diferentes abordagens de Marx, Fayga e Nise demonstram a importância da ação humana no trato com a natureza exterior para seu entendimento, abordagem e controle, e em especial para a criação e a formação de coisas tangíveis e intangíveis e objetos novos. O corpo humano como extensão criadora da natureza e esta como meio de trabalho e aprendizado do homem.