Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

Friedrich Nietzsche e Oscar Wilde

Nietzsche

148. Os poetas tornando a vida mais leve. - Na medida em que também querem aliviar a vida dos homens, os poetas desviam o olhar do árduo presente ou, com uma luz que fazem irradiar do passado, proporcionam novas cores ao presente. Para poderem fazer isso, eles próprios devem ser, em alguns aspectos, seres voltados para trás: de modo que possamos usá-los com pontes para tempos e representações longínquas, para religiões e culturas agonizantes ou extintas. Na realidade, são sempre e necessariamente epígonos. Certamente há coisas desfavoráveis a dizer sobre os seus meios de aliviar a vida: eles acalmam e curam apenas provisoriamente, apenas no instante, e até mesmo impedem que os homens trabalhem por uma real melhoria de suas condições, ao suprimir e purgar paliativamente a paixão dos insatisfeitos, dos que impelem à ação.

Entrre amigos - Um epílogo*
1.
É belo guardar silêncio juntos
Ainda mais belo sorrir juntos -
Sob a tenda do céu de seda
Encostado ao musgo da faia
Dar boas risadas com os amigos
Os dentes brancos mostrando.

Se fiz bem, vamos manter silêncio;
Se fiz mal - vamos rir então
E fazer sempre pior,
Fazendo pior, rindo mais alto
Até descermos à cova.

Amigos! Assim deve ser? -
Amém! E até mais ver!
2.
Sem desculpas! Sem perdão!
Vocês contentes, de coração livre,
Queiram dar, a este livro irrazoável,
Ouvido, coração e abrigo!
Creiam, amigos, a minha desrazão
Não foi para mim uma maldição!

O que eu acho, o que eu busco -,
Já se encontrou em algum livro?
Queiram honrar em mim os tolos!
E aprender, com este livro insano,
Como a razão chegou - "a razão"!

Então, amigos, assim deve ser?
Amém! e até mais ver!

(*Epílogo de seu livro Humano, demasiado humano - Um livro para espíritos fortes, incluindo o comentário anterior 148, Companhia de Bolso, São Paulo, 2000)


Oscar Wilde

"Amem a arte pela arte e tudo o que quiserem lhes será dado por acréscimo. Esta devoção à beleza e à criação das belas coisas deveria ser encontrada em todas as grandes civilizações; deste modo, a vida de cada cidadão deixaria de ser uma especulação para se tornar um sacramento".
"Não há verdade universal na arte. Na arte, uma verdade é em geral aquilo cujo contrário é igualmente verdadeiro".
"A obra de arte deve dominar o espectador. O espectador não deve dominar a obra de arte".
"Um verdadeiro artista não se preocupa absolutmente com o público. O público não existe para ele".
"É pela arte, e somente pela arte, que podemos nos realizar à perfeição; pela arte, e somente pela arte, podemos nos proteger dos perigos sórdidos da existência real".
"Um grande poeta, um poeta autenticamente grande, é a menos poéticas de todas as criaturas. mas os poetas menores são extremamente fascinantes.Quanto mais suas rimas são ruins, mais eles são pitorescos. O simples feito de ter publicado um livro de sonetos de segunda ordem torna um homem imediatamente irresistível. Ele vive a poesia que não pode escrever. Os outros escrevem a poesia que não têm coragem de viver".
"Um artista deveria apenas criar belos objetos, sem acrescentar-lhes nada de pessoal. Vivemos numa época em que os homens tratam a arte como se fosse uma forma de autobiografia. Perdemos o sentido abstrato da beleza".
"Quanto mais estudamos a vida e a literatura, mais percebemos que atrás de tudo que é magnífico está o indivíduo, e que não é o momento que faz o homem, mas sim o homem que cira sua época".
"A literatura sempre antecipa a vida. Ela não a copia mais vai modelá-la de acordo com o fim que se impõe".
"A arte não exprime senão a si mesma. Ela tem uma vida independente, tal como o pensamento, e se desenvolve puramente à sua maneira. Ela não é necessariamente realista se a época é realista, nem espiritual se a época é religiosa. Longe de ser uma criação de seu tempo, ela está em geral em oposição direta a ele, e a única história que ela nos reserva é a história de seu próprio progresso".
"Dizer de um livro que é moral ou imoral não tem sentido. Um livro é bem escrito ou mal escrito - é tudo".
"Toda arte é ao mesmo tempo superfície e símbolo".

(trechos extraídos de Aforismos ou Mensagens Eternas, Landy Editora, São Paulo, 2006)