Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

sábado, 4 de junho de 2016

a nau onde navego desde cedo


a nau onde navego desde cedo
em mares turbulentos adernou
por tempestades de dores e medo

essa nau nada disse ou perguntou
enjoos deu-me a contar em dedo
em meio a oceanos me deixou

marinheiro não era nem sabia
não me valeram botes salva-vidas
só contei com o tempo a cada dia
para endireitar rotas e partidas

calmarias? algumas quem diria!
poucas, furtivas, logo esquecidas
agora o leme sou eu, norte e guia
menos tormentas, muitas sobrevidas