Abro as veias: irreprimível,
Irrecuperável, a vida  vaza.
Ponham embaixo vasos e vasilhas!
Todas as vasilhas serão  rasas,
Parcos os vasos.
Pelas bordas - à margem - 
Para os veios  negros da terra vazia,
Nutriz da vida, irrecuperável,
Irreprimível, vasa a  poesia.
A Carta
Assim não se esperam cartas.
Assim se espera - a  carta.
Pedaço de papel
Com uma borda
De cola. Dentro - uma  palavra
Apenas. Isto é tudo.
Assim não se espera o bem.
Assim se espera - o fim:
Salva  de soldados,
No peito - três quartos
De chumbo. Céu vermelho.
E só.  Isto é tudo.
Felicidade? E a idade?
A flor - floriu.
Quadrado no  pátio:
Bocas de fuzil.
(Quadrado da carta:
Tinta, tanto!)
Para o sono da  morte
Viver é bastante.
Quadrado da carta.
À Vida
Não roubarás minha cor
Vermelha, de rio que estua.
Sou  recusa: és caçador.
Persegues: eu sou a fuga.
Não dou minha alma cativa!
Colhido em pleno disparo,
Curva  o pescoço o cavalo
Árabe - 
E abre a veia da vida.
À Vida
Não colherás no meu rosto sem ruga
A cor, violenta  correnteza. 
És caçadora - eu não sou presa.
És a perseguição - eu sou a  fuga.
Não colherás viva minha alma!
Acossado, em pleno  tropel,
Arqueia o pescoço e rasga
A veia com os dentes - o corcel
Árabe
(Extraídos de Nova Antologia Russa Moderna, tradução de Augusto de Campos, Editora Brasiliense, São Paulo, 1985)