Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Poema do fim de ano

Tardança

                           josé carlos peliano

um pedaço de céu entra pela janela
o cansado azul do final de tarde
os olhos esgazeados do sol retirante
as árvores recolhidas e pacientes

o ar se esquiva do altiplano
as nuvens enxergam longe
o dia se despede e vai só
a primeira estrela demora-se a iluminar

telhados cobrem-se de cores
um espaçoso silêncio teima em ficar
sua foto na estante esbanja companhia
a porta está do mesmo jeito de ontem

meus ouvidos não cansam de procurar-lhe
os olhos de achar-lhe entre os minutos
as mãos secas para acomodar-lhe
trago a noite inteira para seguir-nos


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