Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

José Carlos Peliano

O rio e a ponte

Convidou o rio a ponte
para vir banhar-se em suas águas
cansado estava de admirá-la lá de baixo

Disse-lhe a ponte ruborizada
que não sabia nadar
mas que se encantava vê-lo
correr todo o tempo atrás dela

Até que um dia o rio
tomou-se de desejo e vontade
virou enchente, subiu e
foi até a ponte abraçando-a

Pega de surpresa e ardor
a ponte se descontrola e se deixa levar
descendo aos pedaços nos braços do rio

Desolado o rio não se conteve
e exclamou aos prantos:
quem é rio por último
não é rio melhor!

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