Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Adriana Zapparoli


zênite

furor uterino

numa eletrificação rubra
abismo acolchoado
de trama zibelina
exposta

segredo
um ponto
zênite

num momento

roer

a unha telúrica
do tempo

saltar
para dentro
da vulva

no movimento
da válvula tricúspide

tugúrio

o tule abafa
o trilo da úvula

no dedo o gosto da uva úmida

 
adultério

aerobionte
dialética morfologia
estranha monogamia

rubro cântico

figurativo descanso
uma estrutura rubra
um olho-de-gato
equivocado
refletindo luz


intuitiva a poesia


num escuro
duma estrada
mal sinalizada



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