Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Poema do mês



 



Reverso
                                  Magui Nólia

se a poesia é uma lua
não sabe a chuva espirrada ou despejada
nem o cachorro plantado
entre latas vazias e restos de comida

 
se a poesia é um unicórnio
sem asas, trombetas e longitudes
não dá conta a lesma esparramada
sobre a pedra na dança da manhã
talvez o olhar perdido e não achado
do condor nas fraldas do altiplano

 
se a poesia é poesia
curta, escandalosa, impedida
sabe o verso inacabado e boquiaberto
deixado no meu colo arfante
ao ver sua sombra se diluir no meio da noite

 
se há poesia, se é poesia
livros e livros mostram e escondem
o reverso da medalha
o re-verso da medalha

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