Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

domingo, 12 de agosto de 2012

Celina Ferreira

Cantilena
 
Não quero mostrar-me triste
porque de mim fugireis.
Mas no fundo eu bem sou triste,
mas o fundo não vereis.
Vou cantar. Talvez cantando
coisa minha sabereis.
Pois, se me virdes chorando,
eu bem sei que fugireis.
Vou cantando tão de manso,
que talvez nem pensareis
que por dentro vou chorando,
mas por dentro não vereis.
Vou cantando, pois cantando,
vós talvez me entendereis.


O sexo no espelho

O amante
predispunha o espelho
para duplicar o amor.

Múltiplos corpos,
avidez do resgate,
a noite lúdica.

Hoje, no espelho,
a solidão em dobro.


Bom dia, poesia

Acordo leve e contente
entre cores e alegria.
Penso no mar, nas montanhas,
nos rios , na maresia,
nos peixinhos, nos corais,
no sol que me traz o dia.
Em tudo sinto a grandeza,
em tudo vivo a poesia.

Abro os olhos, que beleza
que Deus agora me envia.
Sou dona dos horizontes,
dos verdes e montes,
da terna e doce harmonia,
dos frutos que vêm da terra,
dos tesouros que ela encerra,
das riquezas que ela cria.

Sinto a paz dentro de mim
e nada perturbaria
a minha grande esperança
que um dia cada criança
viva também a poesia
que recolho no universo
e concentro em cada verso
que distribuo: Bom dia.


Espelho e face

Procuro no espelho
a face remota.
Não aquela que é visível.
A que o vidro não comporta.

Retiro-a, sem medo,
descubro-a, ignota.
Não a face que percebo
em mim mesma, superposta.

Mas imagem lúcida,
clara e luminosa,
que cada dia enterrara
sob a face que está morta.

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