Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Myriam Fraga


O avião

Somente as asas
Aço-metal
Linear o traço.

E o rastro.
Sombra vazia
Do acaso,

Devorando intuições,
Cansaços.

Tão frio-aço (metal)
Vapor de sonho
No espaço.
 
Agosto

Mês de agosto,
Desgosto.

Era de cântaros
(Encântaros)
O barulho da chuva
Nos telhados.

A casa não tinha
Sete torres
Mas o amor era tanto
Que matava.

Mês de agosto,
— Feliz aniversário.

Só o gosto)
O explícito, o cruel,
O fino gosto,
De estender toalhas
Nos altares.
 
Retórica

Quem dirá o que é o mal
E o que é o bem
Se todas as coisas se tocam
E se devoram
— Alfa Ômega —
E no final
É a mesma terra suja
De ninguém?

Banquete

O vinho
que eu bebo
É o preço
De um homem.

O prato que eu como,
Sem fome,
É o salário
Da fome
De um homem.

Mas,

O sonho que eu travo
Com fúria nos dentes

É somente a metade
Do sonho
De um homem.
 

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