Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

José Carlos Peliano - Poema do mês


a nuvem e eu 

falta pouco para nada
se nada já é muito
onde o tempo sem tamanho
se estica ainda mais
no espaço invisível que não olha para trás

não falta mais nada
muito ainda a ser nada
nada ainda a ser muito
a nuvem forma o rosto
que me olha e diz muito

entre nada e muito
um rosto enevoado aparenta ser um rosto
nada mais nada menos
pesa o espaço e o tempo acompanha
a nuvem se desfaz e leva o rosto

sei agora mais nada
muito a destilar do nada
uma questão de toque
espero longe dos pensamentos
outra nuvem sair de dentro de mim

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