Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Lindolf Bell

Semanário


Na segunda-feira trabalho.
Afio enganos, anos e anos.

Na terça-feira trabalho.
Faço promessas de vagar
e de pressas.

Na sexta-feira trabalho.
Descubro um buraco na calça.
Outro buraco na alma.
Liquido a traça.

Na quarta-feira trabalho.
Empilho o tédio em caixas. 
Penduro em branco nas ruas,
as faixas.

Na quinta-feira trabalho. 
Esqueço um percevejo
no fundo da gaveta
do desejo.

Sábado trabalho.
No fonema, no poema.
No sonho entalado da verdade.
No dilema da felicidade.

No domingo
sento numa praça deserta. 
E penso, covarde,
na próxima semana
escrita no livro da liberdade.

Timboema


Timboema
alusões ilusões
compõe-se o poema
de preferências secretas
fortuitos senões

frágil argila
amor e devaneio
se antes do tempo se vai
antes do tempo veio

em algum lugar da indiferença
em província de coisas breves
nada sei senão de ti

em última instância



Poema Matemático

Me somo
E fico um
Me multiplico
E permaneço um.

Me divido.
E continuo um.
Me diminuo.
E resto um.

Me escrevo
E sou nenhum.


finjo sonhos circunstâncias
me bifurco aqui


II

Ninguém ensina
o caminho
da mina.

Na oculta argamassa
vou à caça.
E mesmo da sobra
faço a obra.

O meu prato
é um ato
de alegria.
Também do triste
o fruto persiste.
E apesar do peso
o meu é meu
no coração aceso.

Meu sussurro
é um soco
no escuro.
E meu silêncio,
um grito fundo
nas carnes do mundo.

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