Peliano costuma brincar que a poes-ia e foram os poetas que a trouxeram de volta! Uma de suas invenções mais ricas é conseguir por em palavras lirismos maravilhosos, aqueles que percebemos de repente e temos a impressão que não vamos conseguir exprimi-los. Exemplos: de Manoel de Barros -"Deixamos Bernardo de manhã em sua sepultura. De tarde o deserto já estava em nós"; de Ernesto Sabato - "Sólo quienes sean capaces de encarnar la utopía serán aptos para ... recuperar cuanto de humanidad hayamos perdido"; de Thiago de Mello - "Faz escuro mas eu canto"; de Helen Keller - "Nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar"; de Millôr Fernandes - "Sim, do mundo nada se leva. Mas é formidável ter uma porção de coisas a que dizer adeus". É como teria exclamado Michelangelo que não fora ele quem esculpiu Davi, pois este já estava pronto dentro da pedra, Michelangelo apenas tirara-o de lá. Então, para Peliano, o lirismo é quando nos abraça o mundo fora de nós, cochicha seu mistério em nossos ouvidos e o pegamos com as mãos da poesia em seus muitos dedos de expressão.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Orestes Barbosa - MPB - Músico Poeta Brasileiro

Adeus

Adeus, palavra pequena
Tão grande na tradução
Adeus que eu disse com pena
Sangrando o meu coração

Eu disse adeus disfarçando
Calando a sinceridade
Com os olhos lacrimejando
Pensando já na saudade

Adeus, recordo chorando
Na mágoa dos dias meus
As tuas mãos se agitando
De longe dizendo adeus

Adeus, gaivotas voando
De tarde junto do cais
Um lenço branco acenando
Um sonho que não vem mais

Dona da minha vontade

Saudade de quando em quando
Passarinho segredando
Voam tontos rente ao chão

Felizes na primavera
Na busca da paz sincera
Do ninho do coração

Ela distante sorrindo
Talvez esteja me ouvindo
Mas meu ouvido sem saber

Que o canto que solto é medo
É o nostálgico segredo
Do que eu não posso dizer

Coração ninho de penas
No arminho de almas serenas
Tem perfume tem calor

Pobre de minha ave tonta
A lua triste desponta
E eu vou ficar sem amor

Dona da minha vontade
Escravo da ansiedade
Serei o que ela quiser

Coração porque preferes
Amar todas as mulheres
No amor de uma só mulher

A mulher que ficou na taça

Fugindo da nostalgia
Vou procurar alegria
Na ilusão dos cabarés

Sinto o beijos no meu rosto
E bebo por meu desgosto
Relembrando que tu és

E quando bebendo espio
Uma taça que esvasio
Vejo uma visão qualquer

Não distingo bem o vulto
Mas deve ser do meu culto
O culto desta mulher

Quanto mais ponho bebida
Mais a sombra colorida
Aparece no meu olhar

Aumentando o sofrimento
No cristal lento e sedento
Quero a paixão sufocar

E no anseio da desgraça
Encho mais a minha taça
Para afogar a visão

Quanto mais bebida eu ponho
Mais cresce a mulher no sonho
Na taça e no coração

E no anseio da desgraça
Encho mais a minha taça
Para afogar a visão

Quanto mais bebida eu ponho
Mais cresce a mulher no sonho
Na taça e no coração

Araruta

Tu pedes, mandando
Faça o favor
A tua boca nunca diz
Tu cedes, negando
Com estes olhos
Que pra mim são dois fuzis
Sou mole, manhoso
Teus impropérios
Retribuo com brandura
Pois água mole
Na pedra dura
Tanto bate até que fura
Tu beijas, mentindo
A tua boca
Beija e mente sem sentir
Desejas, sorrindo
Que o teu perdão
Humildemente eu va pedir
Não peco, espero
Ainda a ver-te
Entre lágrimas bem mal
Meu bem, escuta
A araruta
Tem seu dia de mingau

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